domingo, julho 11, 2010





Sopro









Chove lá fora

Aqui dentro também...

Uma pequena chama

Arde incessantemente

Para afastar a escuridão

Quebrar o gelo da morte

E lembrar que somos todos

Como esta chama

Que a qualquer momento

Pode apagar

E como obra

De um sopro Divino

Sempre voltamos ao Criador.




Publicado no site:
http://www.osconfradesdapoesia.com/Biografia/IsabelVargas.htm
Data:2011.01.31
Publicado no Diário da Manhã-Pelotas-RS
Data:2011.03.14 página 15
Publicado no :http://www.portadopoetabrasileiro.blogspot.com/
Data:2011.03.14
Dia da Poesia

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Momentos







Para todos nós

Cada momento um suspiro de dor

Uma profunda tristeza no olhar

A sensação de solidão compartilhada

Na imensa saudade de ti

Nas fotos que olhamos

Nas lembranças que trocamos

No isolamento voluntário

Para tentar entender

O significado de tudo

E tentar às duras penas

Seguir nesta vida

Que para nós

Parece tão sem sentido

Sem nosso lindo anjo

Motivo de alegria de todos nós.


Publicado no Diário da Manhã-Pelotas-RS
Data:2010.10.06-Página 11



SEM SENTIDO



Mais um domingo de sol

Com canto de pássaros,

Latido dos cães,

Vento a soprar

Pessoas a passearam na praia

Chimarrão

Abraço de namorada,

Merengues, crepes,

Música, cinema, futebol

Tudo correndo igual.

Mais um domingo

Sem teu oi sonolento

Teu sorriso tímido

Tua leitura do jornal,

Teu pai sem tua companhia

Para o churrasco habitual

O pãozinho saboroso

Que gostavas de preparar,

Domingo de sol,

Sem reunião familiar

Filhos, genros,nora

Muitos planos, risadas

Sem teu grito de gol,

Tua soneca

Tua hora extra de trabalho,

Provas a corrigir,

Aulas a preparar

Agenda semanal a elaborar

Nos intervalos um negrinho

Saboreado na panela

Uma pipoca comunitária

Doce ou salgada,

Ou para satisfazer o eterno menino

Um grande pedaço de bolo de chocolate

Preparado a quatro mãos

Para saborear acompanhado de teu amor.

Tantas coisas vividas

Coisas simples do cotidiano

Um aperto na Nina

Um beijo no Amorzinho

Que buscavas para o almoço.

Teu cuidado com teu cão,

Teu jogo de futebol

A leitura de um livro

Um abraço apertado

Um afago ao deitar

Um bolinho roubado antes de almoçar,

Um pastelzinho para enganar a fome

Uma bolachinha para lanchar

Um pirulito para a vida ficar sempre doce

Tal como a doçura de teu olhar.

Por tudo isso filho querido

Por essa vivência diária

Simples e reconfortante

A cada chegada tua

Não consigo me conformar

E só faço chorar

Pois contigo meu menino

Se foi minha alegria de viver.





                           Tecer as minhas dores










Tenho um trabalho de tricô na agulha desde antes do trágico acidente que levou meu filho amado



Comprei a lã há bastante tempo, porque era de bom preço e bonita. Na realidade não é lã. É um fio único com um nó seguido de um agrupamento de fios que formam algo parecido com um casulo. As cores: verde e amarelo.



Fiz um bom pedaço e abandonei porque o material me pareceu muito ruim. No espaço do casulo os fios são muito finos e rompem facilmente .Assim como a vida das pessoas. Muito frágil.



Após abandoná-lo fiz vários outros trabalhos, para mim, para minhas filhas e para presentear.



Após a tragédia não fiz mais nenhum trabalho. Semana que passou resolvi fazer algo como um paliativo para manter a sanidade. Deparei-me com o trabalho inacabado. Não sei por que o encontrei fora da agulha. Recoloquei-o. Não consegui continuá-lo naquele momento. Como minha filha o achou bonito pensei, então, em terminá-lo posteriormente. Eis que ao pegá-lo, hoje, alguns pontos estavam perdidos no meio. Desfiei algumas carreiras para arrumar. Nesta altura não pude deixar de fazer a relação com a vida: um fio único - o nascimento, o nó – que nos prende às pessoas, pais, irmãos, familiares, amigos, tudo aquilo que nos preenche, no qual nos aconchegamos, ou seja, um casulo protetor - depois outro nó dando um fim a tudo isso e , novamente um único fio –a morte- que é um processo solitário, apesar de todos aqueles a quem estamos ligados. O nascimento e a morte são processos individuais.



Fiquei a imaginar em que ponto atrás que eu tenha tricotado vi meu filho chegar , em qual ele estaria ao meu lado, conversando, sorrindo em quantos outros eu estaria pensando nele ou recordando fatos de nossa vida em comum, até então cheia de coisas boas.



E agora? O que fazer? Seguir em frente tecendo recordações, sorrisos, tecendo minhas dores para não romper o elo com o passado e não enlouquecer de dor, não cair no vazio existencial? Devo me segurar em cada ponto como um náufrago se agarra a qualquer objeto para não se afundar de vez? Devo entremear sorrisos, lágrimas, dores e esperança ? Não sei. Ainda não encontrei as respostas. No momento só nos observamos. Eu e o trabalho.



Nele vejo o passado construído aos poucos, com nós firmes, outros mais frágeis, pois todo ser humano, tem certos momentos em que está indeciso, inseguro, ou fragilizado e o presente que é o que tenho de palpável, de real, porém cheio de dor , de dúvidas, e de revolta , inclusive, e o futuro , incerto, cheio de surpresas capaz de destruir sonhos,interromper realizações pessoais, afetivas e profissionais



Isto me paralisa, a perda do meu anjo querido, o sofrimento de toda a família e o medo do futuro que não sabemos como enfrentar com esta lacuna em nossa vida.



Por ora estamos vivendo um dia por vez como que espreitando a vida de maneira temerosa.



E os pontos continuam a espera de serem tecidos. Talvez esse sentido apareça na medida em que o tempo for passando.


Publicado no site:www.paralerepensar.com.br/isabelcsvargas
Data:2010.07.26
Publicado no Diário Popular-Pelotas-RS
Data:2010.07.27
Publicado no link Destaque do site http://www.paralerepensar.com.br/
Data:2010.07.27
http://www.paralerepensar.com.br/paralerepensar/texto.php?id_publicacao=12916

Publicado no livro: Seleta de Contos de Grandes Autores Brasileiros
CBJE/BrLetras,Primeira Edição, Setembro de 2010-Rio de Janeiro
ISBN: 978-85-7810-770-3
http://www.camarabrasileira.com/sc10-032.htm



"A morte não é nada.

Eu somente passei

para o outro lado do Caminho.



Eu sou eu, vocês são vocês.

O que eu era para vocês,

eu continuarei sendo.



Me dêem o nome

que vocês sempre me deram,

falem comigo

como vocês sempre fizeram.



Vocês continuam vivendo

no mundo das criaturas,

eu estou vivendo

no mundo do Criador.



Não utilizem um tom solene

ou triste, continuem a rir

daquilo que nos fazia rir juntos.



Rezem, sorriam, pensem em mim.

Rezem por mim.



Que meu nome seja pronunciado

como sempre foi,

sem ênfase de nenhum tipo.

Sem nenhum traço de sombra

ou tristeza.



A vida significa tudo

o que ela sempre significou,

o fio não foi cortado.

Porque eu estaria fora

de seus pensamentos,

agora que estou apenas fora

de suas vistas?



Eu não estou longe,

apenas estou

do outro lado do Caminho...



Você que aí ficou, siga em frente,

a vida continua, linda e bela

como sempre foi."



Santo Agostinho