domingo, abril 01, 2007

DÚVIDAS


Nosso estado sempre foi um estado rico, sendo considerado o celeiro do país (não só de mulheres bonitas), pela produção e exportação de vários produtos. Não é necessário salientar o que é de conhecimento de todos, ou seja, o destaque que sempre mereceu no cenário nacional, na economia pela criação de gado.
O tipo de criação de gado aqui realizado difere em muito do tipo de criação de outras regiões, cujo gado é criado muitas vezes em confinamento, especialmente para o abate.
Existe uma grande quantidade de fazendas no Rio Grande do Sul, especialmente na metade sul, região carente de indústrias e de investimentos.
No último ano, vinham sendo propagandas inúmeras vantagens a respeito do plantio e cultivo do eucalipto, que seria uma grande oportunidade de investimento, posto que uma empresa de grande porte seria a responsável pela execução de tal projeto.
Muitos proprietários de terras utilizadas para criação de gado e para agricultura viram nisto uma oportunidade de sair de uma atividade que vinha sendo muito sacrificada pelos preços de mercado, pelas dificuldades de escoamento da produção, face aos preços altos dos transportes, condições das estradas, roubo, violência, preços de medicamentos para gado, pelos juros de financiamento, pelos preços dos grãos, pela quebra das safras de produtos agrícolas face às intempéries (secas e /ou chuvas) e influenciados por uma grande propaganda venderam suas propriedades seduzidos pelos preços ofertados.
Pois bem, em função disto, segundo depoimento de pessoa que reside na zona próxima àquelas onde a empresa executou o plantio, milhares de hectares foram transformados em plantação de eucalipto, o que nos faz indagar se aqui no sul, não se expandirá uma categoria de trabalhadores antes existente preponderantemente em outras regiões, ou seja, o “bóia-fria”, substituindo o peão da estância.
Os trabalhadores são levados pela manhã e buscados ao final do dia de trabalho.
Com o excedente de mão de obra existente, dá para perceber que o empresário tem a seu favor mão de obra barata.
Não é de se estranhar que o corte após alguns anos, seja realizado por modernas e potentes máquinas, com a utilização de pouquíssima mão de obra.
Alíás, esta é justamente uma das argumentações contrárias ao cultivo do eucalipto, pelo fato de reduzir as oportunidades de trabalho, o que provoca aumento do êxodo rural.
O preço do boi vivo já subiu no mercado, em virtude da redução da criação, não é de se estranhar se houver um aumento considerável no preço dos produtos agrícolas. Aí, novamente, temos as leis do mercado influenciando. Diminuição da oferta com aumento de preços. Favorece o pecuarista que resistiu ou o produtor, mas encarece e piora para o consumidor final.
Não vamos nem entrar no aspecto ambiental, que segundo estudiosos da área, empobrece o solo, esgota a água, reduz a biodiversidade animal e vegetal, conforme amplamente divulgado em sites na internet, específicos sobre fazendas e florestas.
Paralelo a toda esta questão, devemos considerar ainda, que existem organizações não governamentais -ONGS - atuantes no cenário nacional que discutem a maneira de criação de animais (aves, suínos, bovinos, ovinos) para corte e consumo da população criados em confinamento em grandes quantidades, fazendo correlação com o tipo de alimento que é produzido a partir de um animal criado e executado em altíssimo grau de estresse, além de alimentados com rações misturadas a produtos de resultados duvidosos ou incertos com relação à saúde humana, com o aparecimento e desenvolvimento de algumas enfermidades do ser humano, pela ingestão de tais alimentos.
Se realmente isto ocorre, não poderá se agravar, levando em conta as imensas áreas plantadas o que poderá induzir à criação nestes moldes?
É certo que as novidades desestabilizam, geram polêmicas, face às dúvidas que provocam, principalmente pelos grandes interesses econômicos envolvidos.
É bom que não seja este mais um motivo de empobrecimento da região, de desequilíbrio ambiental e de precarização das relações de trabalho.
Publicado no Diário da Manhã- Pelotas- RS
Data:2007.04.01