ACEITAÇÃO
Não estamos vivos apenas porque ainda não morremos, mas porque a vida é uma oportunidade para crescer, para aceitar nossas canseiras, nossos limites, nosso envelhecimento e nossa mortalidade.
Leonardo Boff
Sou daquelas pessoas que acreditam que devemos comemorar as conquistas, pessoais e familiares. As celebrações são momentos únicos que nos permitem usufruir da companhia das pessoas que queremos bem. Estes momentos nos revigoram e muitas vezes são as recordações dos momentos felizes que nos dão o combustível necessário para seguir na jornada e enfrentar os momentos de aflição, porque eles ocorrem, independentes de nossa vontade. Na realidade eles possibilitam o equilíbrio entre as duas situações.
Não gosto de ficar falando de coisas ruins, tristes. Quando me propus a escrever, relatando meus pensamentos, sentimentos e experiências foi com o intuito de, com tais relatos, auxiliar alguém que necessitasse, ao se identificar com o que estivesse lendo, além é claro de me expressar o que é muito bom. Entretanto, tenho vivenciado certas situações que acredito, ao relatá-las estarei fazendo um alerta , com a intenção de que as pessoas percebam o que pode estar ocorrendo com um familiar muito próximo ou com um amigo.
Quando um familiar envelhece, custamos a perceber certas manifestações como resultantes de um mal que os esteja acometendo. O normal é pensar que sejam coisas normais da idade, em se tratando de idade avançada. Também há dificuldade nossa em aceitar que aquela pessoa lúcida, autônoma, decidida, capaz de enfrentar situações difíceis e dela sair sem que isto a tivesse tornada amargurada com a vida, com as pessoas e com os relacionamentos, de uma hora para outra, sem nos darmos conta esteja em situação de impotência, de dependência e confusão. Custamos a encarar a realidade: uma enfermidade que não tem cura, degenerativa e progressiva, causando muito sofrimento não só para os que convivem, cuidam, como para o próprio doente que sofre nos momentos de lucidez, ao se perceber em tal situação.
Assim ao notarem que a mesma pergunta se repetiu dezenas de vezes ao dia, ou que a pessoa conta inúmeros fatos passados, mas não sabe se fez a refeição, mesmo estando sentada à mesa com os familiares e tendo partilhado aquele momento com todos minutos antes, quando a pessoa começar a vagar pela casa, sem saber o que deseja ou o que fazer, a perambular durante a noite ou não conseguir mais coordenar suas atividades, organizar seus pertences, a não saber onde está , mesmo estando em sua própria casa, ou considerar estranhos como conhecidos, colocando-se em situação de risco, fazer gastos sem ter noção de que os fez, ou ainda comprar uma mesma coisa meia dúzia de vezes, não encarem como coisas da idade, simples esquecimento, como uma vez um profissional disse-me diante de uma tomografia.
Poderia citar outros detalhes, mas restrinjo-me para não tornar maçante para o leitor, visto que minha intenção não é outra senão alertar para o fato de que isto é indicativo de uma enfermidade que é difícil de ser diagnosticada, embora acometa um a cada 10 idosos acima de 80 anos, a cada ano que passa e seja a terceira causa de morte nos países desenvolvidos, perdendo apenas para doenças cardiovasculares e câncer.
As mudanças ocorrem, afetam a vida dos indivíduos sem que possamos evitá-las ou interrompê-las. Só nos resta tentar minimizar os efeitos danosos ao enfermo, dentro do possível, para podermos conviver, auxiliar e não deixar que isto nos tire a fé, a alegria de viver, nem nos transforme numa pessoa negativa ou revoltada, conscientes de que as adversidades ocorrem e que devemos utilizá-las para nos tornarmos pessoas melhores
Publicado no Diário da Manhã - Pelotas- RS
Data:2007.03.18
Publicado no Jornal on line: www.jornal3milenio.com.br
Data:200708.27
Publicado no site: http://recantodasletras.uol.com.br
Data:2007.07.26
Publicado no site: www.usinadaspalavras.com
Data:2007.08.10
Publicado no site:http://www.omelhordaweb.com.br
Data:2009.08.18