EM BUSCA DE SENTIDO
Durante minha infância e a vida adulta ouvia muito falar em minha tia Terezinha, irmã de meu pai, que havia falecido muito jovem. Ela havia estudado no Colégio São José e era professora. Sempre se referiam a ela como alguém muito especial, cujas qualidades faziam dela uma pessoa boa demais para este mundo.
Não tinha nem um ano de idade quando ela faleceu, mas foi alguém cujo nome aparecia nas conversas da família, citada sempre com muito carinho, como uma lembrança muito boa. Minha mãe sempre se referia à cunhada com ternura.
A devoção à Santa Terezinha passou dela para outras tias.
Em minhas fantasias infantis imaginava que assim como ela havia partido cedo, aos vinte e poucos anos, e sendo uma pessoa tão boa, também poderíamos ser atingidos precocemente. Sentia-me desprotegida. Imagino que assim possa definir o sentimento que me assaltava. Hoje, creio que já era a consciência de que a morte é certa, que ninguém é poupado, e que não existe idade certa para morrer.
Passados os vinte anos, pensei, ingenuamente, que estava sendo poupada. Afinal, procurava fazer tudo certinho em minha vida, como se isso fosse salvo-conduto. Idéias bobas que nos assaltam na juventude-mesmo eu sendo considerada amadurecida, responsável, boa aluna, boa filha- pelos meus pais, tios e padrinhos. E, o pior é que essas tolices ainda persistem na maturidade, quando procuramos por respostas, que nada tem a ver com as perguntas feitas ou com as proposições colocadas. Sofismas.
Percebo que o sentimento de insegurança me acompanhou pela vida toda, porque depois que meus filhos nasceram, era o medo de perdê-los que me assaltava.
Por ocasião do trágico e inexplicável falecimento de meu filho, o estimado Padre Boari se referiu a ele, ao Roberto, com palavras muito bondosas, por ver o número de pessoas que ali estavam. Não era algo comum na sua concepção.
Na missa de sétimo dia, com a Catedral São Francisco de Paula repleta de pessoas amigas, o que considero uma benção, qual não foi minha surpresa quando o Pároco da Catedral, o mesmo Padre Luiz Boari -que tinha feito a oração de encomendação de meu menino- em um gesto de generosidade, acolhimento, carinho, celebrou a missa e na homilia falou da inspiração que tivera para falar da vida de Santa Terezinha e comparar a vida profícua de meu filho com a vida da Santa, pois ele com apenas 23 anos professor, empresário, havia realizado coisas que muitos não o fazem em uma vida mais longa. Que Deus o abençõe por esse bálsamo para o coração despedaçado de uma mãe.
Não pude deixar de lembrar minha tia, da devoção à Santa Terezinha pelo lado paterno, de meu sogro, também devoto de Santa Terezinha e que por esse motivo meu marido mantém, na cômoda de nosso quarto até hoje, a imagem desta Santa. Percebi que meu filho devia estar sendo acolhido em um reino muito especial.
Minha amiga de mais de vinte anos que o viu nascer, acompanhou-me no trabalho e na vida familiar até agora, mandou-me pelo Dia do Amigo, um livro sobre a amizade e uma imagem de Santa Terezinha (Santa de sua devoção) com a novena milagrosa e um terço todo de rosas.
Relembro que algum tempo atrás -3 anos, talvez- falando com uma pessoa de mais de 80 anos, que conhecera minha tia, creio que fora sua aluna, ao falar nela seus olhos se iluminaram e discorreu sobre ela com tanto carinho, que parecia que ela tinha partido há pouco tempo e não há quase 60 anos. Isto, talvez, seja o que podemos chamar de eternidade: Permanecer vivo no coração das pessoas.
Publicado no Diário da Manhã -Pelotas-RS
Data::2010.07.31
Publicado no site:
http://www.paralerepensar.com.br/
Data;2010.08.01
Link Destaque em 2010.08.02
http://www.paralerepensar.com.br/paralerepensar/texto.php?id_publicacao=13012
Publicado na Antologia de Contos e Crônicas Escritores Contemporâneos
Fronteiras - Realidade ou Ficção? Editora Sucesso, S.Paulo,SP, 2010
http://www.celeirodeescritores.org/