quinta-feira, novembro 10, 2011

Loucura de Primavera




É primavera de novo.

Renova-se o ciclo.

Encanta-me o colorido das flores,

O canto dos pássaros.

Sorrio (não pensei que fosse possível).

Cada vez que vejo o colorido da azálea,

Os Ipês começando a floração,

Os gerânios fortes e viçosos.

E os pássaros...

Recebo, diariamente

Solitária visita em meu pátio.

Parece chamar-me com seu canto,

Tão forte que até lhe pergunto:

O que desejas? Porque me chamas?

Queres me dizer algo?

Consegues perceber

O que minha descrença impede?

Qual recado trazes em teu canto?

E assim permaneço

Neste diálogo insano

Sem resposta, sem consolo

Que eu teimosa prossigo

Dizendo ao pássaro visitante:

Até o céu leva ligeiro,

O meu amor e minha saudade

Que a primavera mesmo abençoada

Não consegue abrandar.
Publicado no Diário da Manhã-Pelotas-RS
Data:2011.10.10-página 19-quinta-feira

Publicado no site:www.recantodasletras.com.br
Data:2012.01.24

Data:2012.01.24

Publicado no Livro:Poesias Selecionadas -Edição Janeiro de 2012-CBJE
Edição Impressa
Publicado na : Antologias on Line
http://www.camarabrasileira.com/ps12-071.htm
Publicado no site:
http://www.osconfradesdapoesia.com/Confrades47.pdf
Boletim Especial - Páscoa-Primavera

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Ela tinha 16 anos quando conheceu aquele rapaz. Conheceu-o de uma maneira não convencional. Não fazia parte de seu círculo de amizade- nem da rua onde morava nem da escola.

Como gostava de ler revistas, aquelas que denominavam foto-novela e estas, geralmente, apresentavam uma seção de correspondência ela resolveu escrever, enviando seus dados pessoais. Não mencionou o nome verdadeiro, mas um pseudônimo. Um nome que parecesse verdadeiro.

Seria uma brincadeira. Uma forma de passar o tempo, se divertir.

Foram muitas as cartas recebidas. Selecionou algumas e passou a responder.

No começo foi novidade, mas depois, passou a ocupar demais seu tempo que precisava dividir entre o colégio, os estudos, as aulas de inglês, o curso de decoração, as vivências em família.

Ficou se correspondendo com uma única pessoa.

Um dia, passados alguns meses, para surpresa sua e da família ele aparece para conhecê-la. Tinha parentes em sua cidade.

As visitas começaram a ser mais frequentes. Ele queria compromisso sério, namorar , casar. Ela só queria viver. Sequer havia pensado nisso. Aliás, tinha sim, mas a imagem que lhe vinha à mente de se imaginar casada e com filhos tão nova, chegava a ser aterrorizante.

Embora o pai fosse contra, o namoro continuou, as intenções dele sendo reiteradas a cada encontro, em cada insinuação mais intensa, nos beijos, nas carícias mais ousadas. E ela, pensando em como sair desta situação que parecia cada vez mais atrapalhada nas ocasiões que ele vinha em sua cidade. Por carta era mais fácil mostrar suas razões, porque não tinha a réplica imediata.

Trouxe familiar para tornar o compromisso mais efetivo, embora a contragosto dela e como o dito cujo tinha um sobrenome influente, outros parentes dela não se fizeram de rogados e retribuíram a visita. E a teia se formando. Ele a cercava com sua presença, suas carícias cada vez mais insinuantes e os demais mostrando a vantagem de casar com alguém com nome e dinheiro.

Sabia que se dissesse não, poderia encontrar resistência. Já estava cansada da insistência dele em ter um relacionamento mais intenso. Apesar de não haver nada que desabonasse a criatura, a não ser o fato dele também ter mentido o nome, tudo o credenciava. Já estava na faculdade, era carinhoso- até demais para quem não estava a fim de intimidades.

Nas férias que ele veio trouxe um anel de pérola, com a intenção explícita, pela simbologia nele contida de mostrar o quanto estava disposto a dar pela companhia, pelo compromisso ou o que mais desejasse, a ponto de afirmar todo orgulhoso que tinha tão boas intenções que quando casasse, ela nem precisaria trabalhar.

Faculdade para que? Ele lhe daria tudo que desejasse. Não havia necessidade. Mulher dele não trabalharia.

Ela aceitou apenas o anel. Nunca recebera nenhum, nem nos seus 15 anos.

Tinha medo de recusar e ele fazer um drama e a família ficar contra ela.

Tudo que ele lhe oferecia velada ou claramente ela recusava.

Embora não revelasse já tinha tomado uma decisão.

Quando as férias terminaram ele foi embora.

Como começou, ela rompeu a relação.                                    

Uma carta clara e definitiva.

Seus sonhos e sua liberdade não tinham preço.
Publicação impressa no livro Tempo de Tudo, Contos
Publicação na Antologia on line: CBJE
http://www.camarabrasileira.com/tt11-039.htm
Publicado no:

http://www.caestamosnos.org/autores/autores_i/Isabel_C_S_Vargas-1.htm

Publicado no site:
http://www.recantodasletras.com.br/contoscotidianos/3598584
Data:2012.04.06






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É límpido como o mar

suave como a brisa de verão

sincero como o riso de uma criança.



Teu olhar

reflete um mundo

repleto de diferentes emoções.



Teu olhar

para mim

é o espelho de tua alma

que me revela

em certos momentos

uma doce cumplicidade

uma grande afinidade

um turbilhão de sentimentos

que só quem quer viver intensamente

é capaz de transmitir.



Teu olhar

tem o calor do sol

o brilho do luar

a transparência do mar

a mansidão das planícies

onde repousam os sonhos

daqueles que te amam.



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Há anos frequento este local. É um bar simples, como simples são os habitantes no entorno. Bairro operário, de gente trabalhadora e ordeira. Em geral, os que aqui aparecem são pessoas conhecidas. Não sou dado a bares, bebida, algazarra. Gosto de uma bebidinha em casa, com familiares, geralmente no final de semana para relaxar.

Acontece, que a vida muda. A casa , antes cheia foi se tornando solitária. Os filhos crescem vão fazer a vida nos locais que encontram trabalho e guarida. Minha filha mais velha está em outro estado. O filho do meio está na capital , a menor sim, está mais próxima, mora na cidade, mas em outro bairro. Geralmente aparece de 15 em 15 dias, devido à escala de folga no hospital. Vem com marido, meus dois netos.

Eu fiquei só, após a morte de minha mulher. Não quis saber de casar de novo. Estou bem assim. Consigo dar conta das minha coisas. Simplifiquei tudo, dispensei ajudante e eu mesmo faço as coisas da casa. Muitas vezes faço as refeições no bar, outras faço alguma coisa que me apraz. O café, volta e meia tomo aqui mesmo.

É a oportunidade para uma prosa com algum conhecido. Vejo televisão- que é maior que a minha- olho a vida que se desenrola.Às vezes se enreda, até parece que dá nó cego que não dá para desatar . Aí não entendemos mais nada. É uma confusão só.

Pois é assim que vejo o que se descortina à minha volta nesse momento.

Já vi coisas engraçadas, tristes, compreensíveis dada a natureza do ser humano. Observei de minha cadeira muita cena de amor, apertos , brigas de ciúme , traições, crianças que cresceram e se perderam outras que se ganharam e se tornaram pessoas de bem. Vi crianças criadas só pela mãe, outras pelo pai e avós. Achei que já tinha visto de tudo. Pois não é que me enganei ? Não sou preconceituoso. Nunca fui.Mas tem coisas que não aceito, uma delas é a droga. Droga e desrespeito com os mais velhos. Acho que respeito e gratidão ainda colocam o mundo nos trilhos.

Droga, tira o homem de si mesmo, da família, da vida.

Por isso, não posso me calar diante da cena que presenciei na mesmo bar de sempre, enquanto esperava para tomar meu café de todo dia, vendo as cenas da vida real se desenrolarem paralelas às da novela- que já não espanta tanto como antigamente- pois às vezes me parece que é tudo uma coisa só, a vida e a novela.

Não consigo entender uma comemoração sem pai e mãe juntos- ou será que ali tinha um pai e mãe? Onde ficou a partilha do bolo com todos? Ou não havia dinheiro para isso ?

Mas havia para outras coisas ? Que foi comemorado ali na minha frente que eu não entendi? Ou não houve comemoração e sim iniciação? Que velas foram acesas? As que guiam para caminhos de luz, de alegria , de gozo ou as que indicam o caminho da morte, da dor, do sofrimento?

Drogas de forma escancarada?

Ou uma queima para fugir dela?

Confesso que estou perdido.

Não sei se choro pelo garoto, se pela minha impotência e da sociedade de fazer algo definitivo e contundente para acabar com as mazelas que detonam famílias como bomba

em uma tragédia por demais anunciada , presenciada e não evitada.

Alguém me explica, por favor?
 
Publicado no livro e na Antologia on line
 
Selecionado  como dos melhores contos do ano na CBJE
Publicado no livro e na Antologia on line

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