Beatriz decidira ficar em casa, desfrutar do calor da lareira e do brilho das labaredas. Este mesmo ambiente que tantas vezes lhe parecera como uma prisão e que lhe dera a sensação de estar numa redoma, isolada do restante do mundo, agora lhe parecia mais acolhedor.
Estava num momento decisivo. Precisava refletir. Desejara tanto ser livre, viver só, com seus temores e suas alegrias e, no entanto, agora que tudo parecia concretizar-se, sentia certa ponta de tristeza. Ou seria insegurança?Medo?
Precisava enroscar-se na manta, aproveitar o fogo crepitando na lareira, sentir-se segura, abraçada, amada.
Foi aí, neste ambiente, que adormeceu na tarde fria e sonhou.
Viu-se em outro local , no qual parecia ser uma estranha personagem. Mas o conflito que presenciava era o mesmo seu. Reconhecia naquela mulher a personagem de um livro que tantas vezes lera, na época que estudava literatura na Universidade. Não era outra senão Capitu, aquela que viveu distante, exilada, isolada.
Reconhecia seus olhos, seu rosto, seu corpo, mas ao mesmo tempo, via nela a si mesma, no olhar dissimulado.
Lembrou-se de terem conversado, de ter perguntado por que ela estava ali, ao que Capitu respondera que talvez ela desejasse saber se tudo valera à pena. Enfatizou que não teria porque responder. Não adiantaria. Cada caso era diferente. Sua situação nada tinha de semelhante à dela. Cada vida se completa no seu próprio ciclo. Só Beatriz poderia avaliar o que faria dali para frente. Deveria seguir sua intuição, sua vontade, desprender-se das coisas materiais e ver o que exigia seu coração.
Foi neste momento que acordou num sobressalto, com o barulho da porta.
Ficou perturbada. Era como se conversasse consigo mesmo.
A resposta teria que vir de seu íntimo.
Continuava sem saber que rumo escolher.