Escondidos
Pesquisas com idosos revelam que a grande
maioria deles sente-se mais jovem do que a idade que realmente tem. Isso
corrobora a ideia de que o espírito não envelhece na mesma velocidade do corpo.
Com as descobertas da medicina, os avanços tecnológicos, as campanhas
realizadas na mídia e as modificações realizadas na sociedade, o corpo retarda
o envelhecimento e a aparência. O modo de viver, os interesses, as
possibilidades também são outras. O acesso aos bens materiais cresceu. Isto
proporciona sensação de prazer, alegria de viver. Pessoas felizes, geralmente
vivem mais e melhor, pois não liberam hormônios danosos ao organismo. Ou o
fazem em menor escala do que as pessoas infelizes ou depressivas.
Considere-se
que as pessoas cedo eram rotuladas de
velha, porque se vivia menos. Hoje a média de vida é em torno de 74 anos. Mas
há muita gente vivendo mais, e com mais qualidade de vida.
Uma coisa
importante para isso ser obtido é as
pessoas se cuidarem e como a velhice que
temos é aquela que preparamos, a tendência é aumentar mais essa perspectiva de
vida.
Poderia
discorrer muito sobre a velhice e os novos paradigmas.
Seria falar de
tudo que temos constatado no dia a dia, nas nossas relações, daquilo que a
imprensa noticia. Por isso achei melhor tratar daquilo que não se mostra com
freqüência e sobre o que o marketing age com intensidade para maquiar por
serem coisas dolorosas que
não gostamos de ver ou mostrar.
Falo da
velhice escondida, daquela que é sofrida não pela aparência em si, nem por
problemas orgânicos, ou perdas naturais que mesmo retardadas, um dia chegam. E
chegam para todos. Independente da boa vida que possam ter levado, da
inteligência, de tudo que possam ter realizado de bom para si mesmo, para a família
ou para a sociedade.
Falo da
velhice das casas geriátricas, do abandono físico ou emocional, da falta de
convivência diária com os familiares. Daqueles que tiveram filhos, os ensinaram
a caminhar, comer, tomar banho, aprender as primeiras letras, e ainda limparam
muitas fraldas – que não eram descartáveis e que ao chegar à velhice não
receberam a contrapartida devida.
Há coisas que
podemos dizer que são mitos, outras não. Um deles é que todos os “velhinhos”
são bons. Os canalhas também envelhecem. Outras são verdades. E a verdade é que
todos gostamos de carinho, de atenção, da companhia daqueles que amamos. Se
gostamos quando estamos saudáveis, em plena atividade, quando a saúde está debilitada, e a
perspectiva de futuro não existe, a falta é mais acentuada.
O que as pessoas desejam é
despedir-se da vida com a sensação de dever cumprido, bem querer dos que o
rodeiam, sensação de pertencimento.
Hoje o destino
de grande maioria das pessoas enfermas cuja possibilidade financeira sua ou de
familiares é razoável, é a clínica, casa geriátrica, asilo, o equivalente a
depósito, arquivo morto, encalhe, dependendo da denominação utilizada em cada
seguimento para coisas sem utilização, defeituosas, ou ultrapassadas.
Matam-se os
velhos por dentro, antes de sua partida.
Visitei alguns
locais com um grupo de estudos e a triste sensação foi essa, captada no olhar
vazio de alguns, no aperto de mão desesperado de outros, em alguns sorrisos
nervosos e envergonhados, na ânsia por uma conversa de outros para fugir do
condicionamento de comer, ver televisão e dormir. Naqueles que ainda tinham
noção de realidade, obviamente. Os demais viviam alheios se é que podemos
chamar de vida aquele trágico percurso.
Data:2011.08.20