Isabel Cristina Silva Vargas
Pelotas / RS
Nos braços do Pai
Otto era o terceiro de cinco filhos- três homens e duas mulheres. Oriundo de um pequeno município teve de trabalhar cedo para não depender só da mãe viúva para sobreviver.
Trabalhava no que antes da falência do pai era seu passatempo. Marcenaria.
Só um dos irmãos conseguiu estudar e se tornar uma pessoa deveras independente, bem sucedido.
A sua vida não foi fácil. Casou, teve um filho, vivia em uma casa confortável com a família, casa esta muito bem elaborada, pois todos os trabalhos em madeira foram realizados por ele com muito esmero.
Algum tempo depois de casado começou a beber. Não tinha noção de que isto viria a desgraçar sua vida. Talvez acreditando que o amor da esposa e filho era grande o suficiente para suportar seu mau humor e suas atitudes grosseiras no dia a dia.
Assim viveram alguns anos, até que o filho cresceu e ao entrar na adolescência, colocando-se ao lado da mãe o expulsaram de casa por não mais desejarem a vida difícil que levavam.
Alguns dias ficou na rua. Sem casa, sem ter o que comer, sem saber para onde ir, até que sua mãe soube de sua situação. Não exitou sobre o que fazer. Imediatamente, foi buscá-lo e o levou para sua casa, onde viviam também mais familiares.
Foi acolhido, com um canto para morar, comida, atenção e amor que ele apesar de tudo não reconhecia. Era um gênio difícil, o que sempre piorava em razão da bebida. Durante alguns anos ainda trabalhou.O dinheiro servia só para suas necessidade, a primordial, a bebida. Não se lembrava de auxiliar a mãe nas despesas de casa. Durante algum tempo ainda trabalhou até que se tornou relapso e não mais conseguiu colocação alguma no mercado de trabalho.
Deprimido, rabugento, com certa dose de agressividade e mau humor, contraiu uma grave doença. Sofreu cirurgias, amputações e apesar de todas as recomendações, não se cuidava corretamente, não deixava os outros fazerem e nem sabia ser grato por todo o cuidado que recebia e atenção que ganhava.
Criava brigas familiares ou as incitava. A pobre da mãe a tudo presenciava desolada.
Não conseguia nem com seu desprendimento dobrar o gênio danado de Otto, Com tudo isso tinha os cuidados da irmã, cunhado e sobrinho, até que um dia a doença foi mais forte e o arrebatou. Não resistiu e pelo seu modo de ser custou a demonstrar o quanto estava mal. Foi tarde demais.
Seu funeral foi todo realizado na igreja a qual a família era frequentadora e membros ativos gozando de consideração de todos.
Isolou-se durante a vida toda e mesmo após sua morte foi alvo de atenção com a presença de muitos amigos da família que ouviram o Padre destacar suas grandes habilidades bem como de outros membros da família, salientando que entre várias peças em madeira existentes na igreja, algumas foram realizados por ele, de forma voluntária e gratuita, entre elas a cruz que ornava o altar e que à sua cabeceira parecia acolhê-lo de braços abertos, como fizera sua mãe durante toda a vida.
http://www.camarabrasileira.com.br/cl14-017.htm