ENCANTAMENTO
Isabel Cristina Silva Vargas
Leninha sempre fora muito medrosa. Não gostava
de escuro, de histórias de assombração, de bruxas, nada que de uma forma lhe
transmitisse insegurança.
Talvez o medo
a instigasse a ponto de ficar a pensar constantemente no assunto e, segundo
dizem, atrair para si o que, na realidade, não queria.
Certa noite,
antes de dormir, deu uma volta no pequeno jardim de sua casa. Nele havia um pinheiro
plantado por seu pai, logo que compraram a casa. Ele quando comprado, segundo
seu pai dizia devia ter um metro de comprimento; Na realidade, embora o
tamanho, ele era novo como ela. Uns dez anos. Só não cresciam na mesma
proporção. Sempre que o tempo estava muito úmido, na volta do pinheiro cresciam
muitos cogumelos. A região, por natureza é úmida. Azálea, amor perfeito,
brincos de princesa, hibisco e hera eram as outras espécies de plantas que
existiam ali. Seu pai quando via os cogumelos desejava arrancá-los. Não sabia
se tinham algum veneno ou não, o que poderia prejudicar os cães, pequenos e
delicados.
Ela sempre
dava um jeito de impedir que ele fizesse isso. Achava os cogumelos tão
bonitinhos. Pareciam de histórias infantis. Quando sentava embaixo do pinheiro
conversava com eles. Perguntava-lhes se eles eram moradias de seres pequeninos,
elfos ou duendes não sabia precisar.
Nesta noite
fez isso mais uma vez. Tinha muita curiosidade. Lia muito sobre seres
encantados, mas nunca vira algum.
Andou pelo
jardim, olhou as estrelas, conversou com cada pequena planta e só então foi
deitar-se.
Queria deixar
a janela aberta, mas a aragem fria da noite não lhe permitiu. Achava que a
janela aberta facilitaria a entrada de algum ser. Na verdade, seu pequeno
jardim era sua floresta encantada. Para seus pais, pessoas naturalmente
distante das coisas mágicas, pois tinham que se preocupar com coisas mais
sérias, inclusive zelar pela segurança diziam que o máximo que aconteceria
seria um ladrão entrar pela janela aberta.
Conformou-se e
foi dormir. Muito aborrecida.
Apagou a luz,
puxou as cobertas da cama. Só um facho de luz entrava pelas venezianas da
janela do quarto.
Adormeceu.
Um tempo
depois sentiu como se a chamassem. Ficou em um misto de sonho e realidade.
Virou-se para o outro lado. Seus olhos bateram na ponta da cômoda, exatamente
onde o raio de luz batia. Assustou-se. Sentado displicentemente na beira do
móvel, um ser inimaginável. Ou melhor, imaginado sim, mas só no mundo da fantasia.
E ali era real. Seu quarto, suas coisas e ele ali. Então, era real.
Ele sorria
para ela. Sorriso brincalhão. Parecia que já a conhecia e a seus pensamentos
também.
Não sabia
definir se era um duende, um elfo. Nem sabia muito bem a diferença entre eles.
Só sabia que eram protetores da natureza.
Tinha um
sapato igual àqueles que via nas histórias, bem comprido com a ponta virada
para cima. Era marrom. A calça cinza e o casaco verde. Na cabeça um gorro com a
ponta caída. Quando ele se mexia, parecia que mudava de cor. Parecia um arco-íris em sua cabeça. Em outros
momentos parece que se transformava em uma estrela.
O que lhe
chamou a atenção é que ele sorria muito. Sorria e falava que sabia quem ela era
e de como gostava das coisas da natureza. Pediu-lhe que continuasse assim.
Seus cuidados
tinham muito valor porque só com o cuidado de todos haveria vida no futuro. Que
cabia às pessoas como ela, de coração puro e comprometidas com o bem, espalhar
esse sentimento de cuidado e proteção para um número sempre crescente de
pessoas.
Leninha
comprometeu-se com ele. Mas desejava que ele aparecesse mais vezes.
Ele
despediu-se e ela seguiu dormindo.
Ao amanhecer,
abriu os olhos, sem se recordar de nada.
Quando se
levantou viu um pequeno buquê de flores do campo sobre a cômoda.
Lembrou-se do
ocorrido.
Não fora um
sonho.