sábado, março 31, 2012



Isabel Cristina Silva Vargas
Pelotas / RS






Friagem






Ao acordar, estranhou que a garota já não estava na sua cama.
Imaginou que teria ido embora. Talvez tivesse roubado algo. Mas o que? Não tinha coisas de valor.
Talvez, passado o temor da escuridão e o frio da noite, tivesse se animado a procurar alguém conhecido, algum companheiro de desventura ou parceiro de aventuras urbanas. Talvez isso, talvez aquilo... Conjecturas. Não se animava a ir verificar o que se passava, isto é, sair do quarto e ver por onde andava a bichinha.( A sensação que ela lhe transmitia era esta. Um ser indefeso, sem consciência dos perigos que enfrentava).
Aflição boba. Não significava nada para ele. Tinha sido, apenas, um encontro sem importância na desventura . Um ato recíproco de solidariedade. Cada um aliviando a friagem exterior e interior do outro. E, como aliviara. Há muito não sabia o que era ter alguém por perto. Dividindo o mesmo leito, então, mais tempo ainda.Embora tivesse sido só um gesto para não deixá-la ao relento como um gato de rua.
Será que ela tinha ido embora? Porque sentia um aperto no peito?
Não tinha acontecido nada. Só diminuíram o frio que sentiam.
Nada possuíam para oferecer um ao outro. Ele muito mais velho, calejado. Ela muito novinha. Era como um animalzinho acuado. Errante, solitária, abandonada.
Ele só tinha aquele lugar para se aninhar. Precário, mas era tudo que possuía.
Decidiu parar com as suposições.
Encheu-se de coragem e levantou.
Viu sobre a cadeira o gorro de lã que ela usava para se proteger do frio. Velho e surrado como ele.










Isabel Cristina Silva Vargas
Pelotas / RS







Fantasia





Achei que te compreendia.
Enganei-me.
Pensei ser entendida.
Pura ilusão.
Abri meu coração,
joguei palavras ao vento.
Foste uma muralha impenetrável.
Ignoraste cada sopro de ternura,
súplicas constantes por atenção
evidenciando pedidos de socorro.
Nas perguntas feitas,
roguei por qualquer resposta
que me mostrasse tua humanidade.
Imaginei afinidades não existentes.
Vislumbrei em sonhos cumplicidades vãs.
Em cada linha e entrelinha de muitos textos
procurei mensagens não ditas,
sinais, códigos
que se revelaram falsos
que me induziram a interpretações distorcidas.
Não consegui me fazer entender.
Nem perto cheguei
da pessoa que julguei existir
Na realidade, foi pura fantasia
de uma alma ardente
a revelar um coração carente.






http://www.camarabrasileira.com/bs212-027.htm



Publicado no site:
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/3650132
Data:2012.05.04






Volume 8 (oito)






Lista de Participantes do volume 8
ISBN: 
978-85-64488-07-6
Adriana Pavani – Barra Bonita-SP
Aglaé Torres -

Alcione Sortica – Porto Alegre-RS
Ana Maria – Portugal
Benioson Toniolo -
Cecy Barbosa Campos
Dhiogo José Caetano – Goiás
Edla Feitosa
Elisângela Teixeira -

Fábio Daflon -
Gisele Wolkoff – Portugal

Isabel C. S. Vargas – Pelotas
Márcio Catunda -
Mário Benincasa Jr – 

Maria Coquemala -
Mariana Correa -
Neri França Fornari Bocchese – Pato Branco
Neiva Bridi -
Reginaldo Costa de Albuquerque -
Ricardo Alfaya -
Rozelene Furtado de Lima -
Silvia Badim -
Yaya
Valdinar Monteiro de Souza – Marabá
Caso você esteja participando deste volume e seu nome não conste aqui, ou você deseje que publiquemos um link para uma página sua no seu nome, escreva-nos.
Abilio Pacheco & Deurilene Sousa (organizadores)
editoraliteracidade@uol.com.br
(91) 8263-8344 (tim)