Conexões
Betina sentia-se culpada desde o trágico falecimento da prima.
Culpada por não ter comparecido aos funerais, por não ter ido dar um último adeus àquela com quem tinha, além do parentesco, amizade e carinho.
Não lhe fora permitido ir. Afinal, cidade pequena, morte trágica - assassinato pelo amante - pessoa conhecida e influente. Ela, uma simples estudante rendera todo tipo de comentário e maledicência. Era conveniente manter-se afastada, segundo as ordens dos pais.
O preconceito por aquilo que classificavam como má-conduta se sobrepunha à dor. Era como se fosse castigo pelo erro. Não teve intenção sequer de esboçar vontade de ir. Nem sabia se seus pais foram às despedidas. Era tudo muito velado. Comentários à boca pequena.
Passado um tempo, foi ao campo santo por ocasião do falecimento de uma pessoa amiga.
Resolveu, junto com o namorado, procurar o túmulo de Solange.
Queria mostrar a ele o túmulo da finada. Andaram um bom tempo, sem sucesso, por entre os corredores do cemitério. Já estava pensando em desistir da empreitada de apresentação post-mortem quando ouviu um chamado. Só ela ouviu. De forma clara, inconfundível: “Betina”.
Um arrepio percorreu-lhe a espinha. Virou-se para trás. À sua esquerda, bateu o olho na lápide que não havia percebido na passagem.
Era ela: Solange!
Não acreditava no que ouvira e no que via. Mas as evidências estavam ali, bem na sua frente.
Deixou as apresentações para depois. Saiu intempestivamente. Nunca mais voltou naquele lugar.
Também não esqueceu o fato.
http://www.camarabrasileira.com/sel12-021.htm
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