RELAÇÃO FATAL
Floriano considerava-se uma pessoa afortunada. Conseguira muitas bênçãos
na vida. Assim ele se referia às realizações pessoais-afetivas ou
profissionais. Nascera em família humilde com muitos filhos e firmes
orientações sobre dever, honra, dignidade e respeito. Foi sobre estes pilares
que alicerçou sua vida. Casou, teve filhos, educou-os com os mesmos preceitos
que lhe foram passados pelos pais.
Era
construtor. Orgulhava-se de sua profissão. Com as sólidas bases que edificou
sua trajetória de vida também erguia as casas que para ele significam mais do
que uma simples moradia, mas a materialização dos sonhos de muitas pessoas, em
cujos espaços eram fortificados laços de amor, respeito, solidariedade. Lares
onde desejava que as pessoas fossem felizes.
Ele
mesmo erguera o seu onde foi possível ver os filhos crescerem com saúde,
tornarem-se adultos. Orgulhava-se dos filhos e das profissões escolhidas. As
duas filhas professoras, o filho, advogado.
Aos
sessenta anos ficara viúvo. Um câncer roubou-lhe a esposa deixando só, após um
período de intenso sofrimento. Acreditava que sua vida havia chegado ao fim,
que seu ciclo estava completo e nenhuma novidade aconteceria. Com essa convicção
seguia sua rotina diária, e como
era muito religioso, sempre
agradecendo pela vida e por tudo que havia conquistado e até pelos maus
momentos, ciente de que a vida apresenta
diversas facetas .
Próximo
de completar 70 anos conheceu uma pessoa. Uma mulher de 40 anos, solteira. Não
lhe havia passado na cabeça a idéia de tornar a casar-se. Com o incentivo de
familiares foi procurá-la e em menos de um ano estavam casados No civil e no
religioso. Senta-se revigorado. Passou a interessar-se pela vida. Viajavam,
tiravam férias no Uruguai a cada final de ano. Visitavam sua filha que morava
em outra cidade, passavam temporadas fora de casa.
Passara a ter medo da rotina.
Sentia-se feliz. Todos haviam aprovado
sua decisão. Tinham uma relação familiar sólida.
Para ela, que já se julgava condenada à
solidão para o resto de sua vida, encontrá-lo tinha sido uma grande sorte.
Podia desfrutar de prazeres que sua condição financeira na permitia, pois
trabalhava como balconista para sustentar a si e a mãe velha e doente.
Viveram juntos por dez anos. Ela ficou
viúva aos cinqüenta, quando o coração octogenário de Floriano não resistiu ao
esforço de uma noite de amor.
Ele morreu feliz, ela viveu o resto de
sua vida lamentando a falta dele..
Publicado no livro. Contos Fantásticos 2012- CBJE
Publicado na Antologia on line
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