Ritual
Como de hábito
levanto-me , faço a higiene , como alguma coisa e saio, não sem antes pegar
meus objetos indispensáveis para a peregrinação diária- a bíblia , o terço.e o
meu crucifixo.
Gosto de ler
as passagens, os salmos , de cantar os hinos de louvor a Deus .Gosto daqueles
mais tradicionais, mais solenes . Hoje tem algumas em ritmo mais moderno que eu
acho até desrespeitoso com Deus, Jesus, Maria e os santos em geral.
Modéstia à parte, tenho boa voz, canto bem e alto. .Tanto
que às vezes pego as pessoas me olhando um tanto desconfiadas - isto quando dá
o acaso de cruzar o olhar, porque não fico me exibindo, nem olhando para os
outros. Devem achar que sou louco. Mal
sabem que eu também já pensei isso. Mas foi em outros tempos. Sou assim, meio bicho do mato, de pouca
conversa e poucos olhares. Vivo dentro da linha que tracei para minha vida.
Pelo menos acho que fui eu.
Cumpro um
ritual diário.
Vou na missa
todos os dias.
Antes fico ali
horas a fio. Passeio na volta , olhando cada detalhe da parte de fora, até
porque tem hora para abrir.O interior conheço cada detalhe. É como se fosse
minha casa. Acompanhei as poucas mudanças que ocorreram.Vou ali desde pequeno, antes
de sair a correr mundo à procura de explicações para coisas inexplicáveis ou
para fugir dos caras que me procuravam.
Quando voltei
e ainda não podia me expor muito, era onde eu ficava.
Chego cedo,
fico sentado no banco embaixo da árvore, bem de frente para a porta. Leio, peço
perdão, rezo. O terço todinho.Enquanto isso vai me subindo um sentimento que
não sei explicar e me lembro de onde e como eu poderia estar e tenho vontade de beijar os pés de Jesus por
me permitir andar por tudo . É quando eu
me ajoelho e beijo o chão e fico de braços abertos agradecendo por esse mundão
todo à minha disposição.
Em outras
ocasiões fico de pé todo o tempo, afinal sacrifício , penitência e jejum limpam
as impurezas da alma. Fico ali desafiando os postes e ver quem permanece mais
tempo durinho, estaqueado só olhando para cima com aquele olhar de Jesus
Cristo, só olhando pro pai, menos na hora algoz, claro, quando ele não
agüentava mais e baixou os olhos de tão desanimado. Sei bem como é isso.
Agora não
baixo mais . Ando sempre empertigado.O olhar sempre num ponto fixo. Sempre
olhando para frente, reto, sem olhar para trás nem para os lados. Só para cima
e para dentro de mim.
Talvez por
saber tanto do cara e tudo que ele deve
ter sentido que ao me olhar no espelho até me acho parecido com ele. Quando não
tinham me cortado o cabelo e a barba então,era mais ainda. Quase igual.
Aí depois de
todo esse ritual diário sento na porta
da igreja e ali eu fico todo dia até a hora de assistir a missa e encerrar meu
dia .Até recomeçar tudo de novo.
Publicado no livro:
Conto publicado no Livro "Contos de Grandes Autores Brasileiros" - Outubro de 2011
Publicado na Antologia on line:
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