segunda-feira, fevereiro 06, 2012



Pesadelo sem fim





Ritual matinal: Rezar,tomar café, ler o jornal. Não necessariamente na mesma ordem.
Naquela manhã acordou, passou os olhos pelo jornal, rezou. Por ser sábado, resolveu dormir mais uma pouco.
Encontrou o filho. Ele deitado, sem abrir os olhos.Estava vivo. Ou não... Não sabia definir. Ele não estava bem. Dizia-se preso em um lugar. Era como um hospital . Identificou como um misto de um hospital psiquiátrico com outro ambiente que lhe pareceu conhecido.
Ele dava a entender o quanto havia sido maltratado.Havia angústia em sua manifestação. Era como se lhe tivessem colocado algo na boca.. Indicava o peito. Ela o abraçava e dizia angustiada:- Filho amado vou te tirar daqui. Confia. Confia que eu te amo muito. Abraçava-o junto a ela. Abraçava-o encostado em sua barriga, em posição quase fetal. Era sua forma de protegê-lo.
Havia mais familiares à volta.
Era uma mulher que o havia mantido prisioneiro, que o havia maltratado até a morte.
Seu marido indignado queria entrar, interpelá-la .
Ambos, permaneciam deitados- ela e o filho- agora no chão em um lugar onde havia escadas, canteiros, passeios internos.
Todos desesperados tentavam dissuadir o marido de tomar providências sozinho. Tinha que ser com a polícia, dizia desesperada.
Ela é perigosa ,exclamava enquanto se mantinha sempre abraçada ao filho, em meio à confusão.
Logo a seguir, ela já não estava mais com ele.
Estava sozinha.
Havia ido ao local e descoberto várias coisas, as quais não lembrava quais seriam.
Mas seu sentimento era de descoberta.
Percebeu que havia muitos medicamentos no local.
Em um outro momento,um menino pequeno, pele clara e cabelo escuro os ajudava na fuga .
Foram descobertos. Ela deitada no chão não conseguia se mover.
Chegaram vários homens. Todos com jaleco.
Ela tinha consciência que havia mais pessoas presas no local, em outro pavilhão mais próximo.
Acordou angustiada.
Na véspera estivera muito mal. Havia chorado muito. (Era o que mais fazia desde que havia perdido o filho em um estúpido acidente fruto do cansaço físico.)
Há dias que se assemelham à época de vendaval, que a tudo derruba sejam elas frágeis ou fortes como rochas que destroem vidas ao despencarem . Aquele fora mais um deles.
Em outros parece que tudo acalma e sopra uma brisa suave que conforta. É como se anjos soprassem em seus ouvidos doces cantigas fazendo-a lembrar de momentos da infância de seus filhos, quando inventava cantigas e histórias de ninar.
Suspira profundamente.
Vai tomar café para ver se acorda de vez do pesadelo.
Lá fora o vento sopra fortemente.
Dentro dela, as convicções balançam.

Publicado na Câmara Brasileira de Jovens Escritores- CBJE
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