(conto)
A vida sempre foi uma sucessão de acontecimentos a me atingir profundamente.
O que me aconteceu na infância, a enfermidade, marcou-me não só na memória, como no rosto para que eu não esqueça nunca do momento em que me olhei no espelho e não me encontrei, não me vi, não me reconheci no rosto desfigurado. Não encontrei a face que todos diziam ser angelical -eu também achava – os olhos de um azul intenso não me viam.
Depois, bem mais tarde, a morte de meu pai jogou-me na dura realidade da luta pela sobrevivência.
Os amores que tive sem os desejar e os que desejei em vão.
Todos os fatos me atingem e me arrastam como objetos levados na correnteza sem qualquer proteção.
Ás vezes achamos um galho, para nos segurarmos, mas logo ele vai adiante e somos jogados de novo à própria sorte.
O tempo passa, a beleza desaparece, os amores se vão e continuamos como sempre estivemos: só. Até que o ciclo se complete.
Nascemos, vivemos e morremos sozinhos. É um processo individual, não inter-pessoal. Ninguém vai morrer em meu lugar.
Deveria me sentir feliz. Significa que me basto. O resto é cenário.
Publicado no site:http://www.usinadaspalavras.com/
Data:2007.09.10
Publicado no site:http://www.textolivre.com.br/
Data:2009.04.29
Data:2009.11.13
http://www.camarabrasileira.com/cve09-032.htm
Publicado no livro Contos de Verão, Edição Especial 2009, CBJE/BrLetras, Rio Janeiro, Brasil
crédito de imagem:http://www.lekasami.blogspot.com/
Publicado no site:http://www.recantodasletras.com.br/contoscotidianos/3562524
Data:2012.03.19
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